ATIVIDADES DE 18 A 22 DE MAIO
Olá estudantes! Tudo bem com vocês?
Estamos nos aproximando do final do nosso primeiro bimestre de uma maneira bem fora do que estamos acostumados, mas pudemos aprender algumas coisas bem legais nesses meses, não é?
Na semana passada refletimos sobre a relação entre as ideias de Filosofia espontânea e Filosofia sistemática. Agora para encerrarmos com chave de ouro o bimestre, vamos refletir sobre a utilidade da Filosofia.
Leia o texto abaixo e faça as atividades solicitadas em seguida.
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Filósofos e “filósofos”
Se “todos os homens são ‘filósofos’”, como quer Gramsci, qual é, então, a diferença entre o filosofar de uma pessoa comum e o de um filósofo profissional ou especialista? O próprio autor esclarece:
“O filósofo profissional ou técnico não só ‘pensa’ com maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, isto é, sabe as razões do desenvolvimento que o pensamento sofreu até ele e está em condições de retomar os problemas a partir do ponto em que eles se encontram após terem sofrido a mais alta tentativa de solução etc. Ele tem, no campo do pensamento, a mesma função que nos diversos campos científicos têm os especialistas”.
Trocando em miúdos, podemos dizer que o filósofo especialista: pensa, reflete, raciocina observando mais cuidadosamente as regras da lógica e os procedimentos metodológicos que utiliza; conhece a história do pensamento, isto é, a história da Filosofia; é capaz de analisar os problemas de seu tempo à luz da contribuição dos filósofos do passado que já se debruçaram sobre eles.
Mas se existe essa diferença entre o filósofo especialista e o não especialista, por que então afirmar que “todos os homens são ‘filósofos’”? Justamente para combater e destruir aquele preconceito de que a Filosofia é uma atividade muito difícil e restrita a uma minoria.
É importante perceber que a propagação desse preconceito cumpre uma função política conservadora, na medida em que afasta a Filosofia do contato com as massas, com o povo, com as pessoas mais simples. Dessa forma, impedidas de se apropriar dos conceitos e das teorias elaboradas pelos filósofos, as pessoas ficam desprovidas dessas ferramentas intelectuais que lhes permitiriam superar mais facilmente o senso comum e adquirir um conhecimento mais crítico e elaborado da realidade em que vivem.
Além disso, cabe afirmar que todos os homens são “filósofos” para deixar claro que todas as pessoas são potencialmente capazes de avançar de um “filosofar” espontâneo, assistemático, restrito ao bom senso, para um filosofar mais elaborado e rigoroso, semelhante ao praticado pelos filósofos especialistas.
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Estabelecida a diferença entre o filósofo especialista e o filósofo que todos somos, trata-se, agora, de aprofundar a compreensão do conceito de Filosofia. Muitos dizem que ela é uma reflexão. Mas que tipo de reflexão? No texto abaixo veremos a concepção do filósofo Dermeval Saviani que propõe apresentar a definição de Filosofia como uma “reflexão (radical, rigorosa e de conjunto) sobre os problemas que a realidade apresenta”.
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A Filosofia como reflexão
Vimos que etimologicamente a palavra filosofia significa busca do conhecimento verdadeiro, ou seja, busca da verdade. A forma pela qual a Filosofia realiza essa busca da verdade é por meio da reflexão. Mas o que é refletir?
Como nos lembra o professor Dermeval Saviani: “se toda reflexão é pensamento, nem todo pensamento é reflexão”. O pensamento é um ato corriqueiro, singelo, espontâneo, que realizamos descompromissadamente a todo instante, até mesmo sem perceber. A reflexão, por sua vez, é uma atitude mais consciente, mais comprometida, que implica pensar mais profundamente sobre um determinado assunto, repensá-lo, problematizá-lo, submetendo-o à dúvida, à crítica, à análise, buscando seu verdadeiro significado.
Assim, o pensamento pode ser reflexivo ou não. Acontece que nem toda reflexão é filosófica. Segundo Saviani, para isso ela precisa satisfazer, ao mesmo tempo, a pelo menos três exigências:
ser radical, isto é, analisar em profundidade o problema em questão, buscando chegar às suas raízes, aos seus fundamentos;
ser rigorosa, ou seja, proceder com coerência, de forma sistemática, segundo um método bem definido para propiciar conclusões válidas e bem fundamentadas;
e ser de conjunto, isto é, tomar o objeto em questão não de forma isolada e abstrata, mas em uma perspectiva de totalidade, ou seja, levando em consideração os diversos fatores que, em um dado contexto, o determinam e condicionam.
Além disso, vale lembrar que filosofar implica questionar o senso comum. Para tanto, é preciso utilizar certos conceitos e teorias necessários para a compreensão mais aprofundada dos temas e problemas sobre os quais se vai refletir. Ora, como estes conceitos e teorias estão contidos nas obras dos filósofos, é importante estudar tais obras, não para memorizar mecanicamente, mas para compreendê-las e, com base nesta compreensão, questionar o senso comum e transformar nossas representações primeiras sobre diferentes temas da vida cotidiana, da vida em sociedade.
Mas, ao entrarmos em contato com a obra de um filósofo, não apreendemos apenas os conceitos por ele desenvolvidos. Apreendemos também o seu jeito de pensar, de raciocinar, de argumentar, de organizar as ideias, enfim, o seu “estilo reflexivo”, o que também nos ajuda a melhorar cada vez mais nosso próprio jeito de pensar. É dessa forma, estudando o pensamento dos filósofos e nos exercitando mais e mais na prática da reflexão, que nos tornamos cada vez mais filósofos.
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A partir destas leituras pudemos compreender que a reflexão filosófica não pode ser praticada de forma espontânea, descomprometida. Antes, ela requer dedicação, esforço e, muitas vezes, trabalho árduo, cuja recompensa será um conhecimento mais elaborado e crítico do objeto dessa reflexão. Para finalizar, vamos retomar a questão da utilidade versus inutilidade da Filosofia com a leitura do texto abaixo:
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Utilidade da Filosofia?
Para que serve a Filosofia? Qual é sua utilidade? Para responder a essas perguntas precisamos antes fazer algumas outras: O que entendemos por útil? Quem nos dá os critérios com base nos quais consideramos algumas coisas úteis e outras inúteis? Conhecemos de fato esses critérios? Paramos para pensar sobre eles? Tomamos conscientemente a decisão de aceitá-los? Por que perguntamos sobre a utilidade de certas coisas e não de outras? Haveria pessoas ou grupos interessados em mostrar algumas coisas como úteis e outras como inúteis? Quando dizemos que, para nós, uma determinada coisa não serve para nada, estamos expressando um conhecimento efetivo sobre essa coisa ou, na verdade, apenas reproduzimos a “opinião” geral ou uma visão hegemônica a respeito dela? Estamos agindo com autonomia e liberdade?
Poderíamos formular ainda inúmeros outros questionamentos derivados daquele inicialmente apresentado. E, ao fazê-lo, já estaríamos nos situando dentro da Filosofia, isto é, já estaríamos, em um certo sentido, filosofando. Afinal, filosofar é, também, não aceitar como verdadeira qualquer ideia sem antes submetê-la à dúvida, à investigação, à reflexão crítica e rigorosa. Ora, isso significa que, para demonstrar com consistência a utilidade ou inutilidade da Filosofia, ou de qualquer outra coisa, já teríamos que filosofar.
[...] é preferível ‘pensar’ sem disto ter consciência crítica, de uma maneira desagregada e ocasional, isto é, ‘particular’ de uma concepção do mundo ‘imposta’ mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente [...] ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira crítica e consciente e, portanto, em ligação com este trabalho próprio do cérebro, escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente na produção da história do mundo, ser o guia de si mesmo e não aceitar do exterior, passiva e servilmente, a marca da própria personalidade?
GRAMSCI, A. Caderno 11 (1932-1933). Introdução ao estudo da Filosofia. In: Cadernos do cárcere. Vol. 1. Edição Carlos Nelson Coutinho com Marco Aurélio Nogueira e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. 93-94.
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A T I V I D A D E S ___________________________________
1. Para que serve, afinal, a Filosofia?
2. É importante estudar Filosofia na escola? A quem serve a ideia da retirada da Filosofia do Ensino Médio?
3. Explique por que a ideia de que a Filosofia é uma atividade muito difícil e acessível apenas a poucos privilegiados é politicamente conservadora.
4. A partir do seu ponto de vista, você entende que as aulas de Filosofia têm, no decorrer desses anos, fornecido ferramentas intelectuais para conhecer melhor a realidade? De que forma?
5. Para bem encerrarmos o bimestre na disciplina de Filosofia, escreva uma autoavaliação sobre o que você aprendeu neste bimestre e as reflexões que tivemos nesta aula te ajudaram. Se você se sentir confortável, dê uma nota para si mesmo pelo seu desempenho neste primeiro bimestre.
É muito importante que você faça as atividades, responda às questões acima em folha separada, devidamente identificada, e as entregue na escola no dia 22 de maio no horário escolhido para a sua série. Vamos concluir esse bimestre com sucesso - dentro do possível! :)
E já sabem, quaisquer dúvidas podem me chamar no Whatsapp!
Bons estudos!